DADOS NA BORDA

Mitos sobre a borda

Três equívocos que podem ofuscar nosso entendimento da nuvem, desmascarados.

O que é a borda? E o que não é? Este artigo trata de três mitos:

Índice

A borda está próxima.

Seja em termos de proximidade quanto de tempo, a borda está logo ali.

Longe de uma periferia passiva quase superficial da rede, a borda é um local agitado para análise de dados, gerenciamento e até mesmo armazenamento. A migração daquilo que o inventor David McCrory chamou de gravidade dos dados para a borda está transformando setores e criando novas oportunidades de mercado. Em um relatório de outubro de 2018, a McKinsey & Company identificou 107 casos de uso distintos de borda, calculando o valor em potencial da computação de borda de US$ 175 bilhões a US$ 215 bilhões até 2025 — e esse é apenas o valor para as empresas de hardware.

As empresas ansiosas para explorar o valor antes inacessível dos dados não podem se dar o luxo de ignorar os novos casos de uso da borda no horizonte.

As empresas ansiosas para explorar o valor antes inacessível dos dados não podem se dar o luxo de ignorar os novos casos de uso da borda no horizonte.

A maioria delas está acordando para o fato de que “precisamos expandir nosso pensamento para além da centralização e a nuvem, e em direção ao processamento distribuído e de local para o processamento em tempo real e de baixa latência”, como disse o analista da Gartner Thomas J. Bittman. Ainda assim, para aqueles que não se especializam em tecnologia, a curva de aprendizagem pode ser acentuada, o que é compreensível.

Alguns equívocos compreensíveis podem, digamos, obscurecer a borda. Vamos conferir os três mitos mais comuns e como eles se comparam com a realidade.

MITO 1: a borda engolirá a nuvem.
A computação distribuída tem sido tão ascendente que os investidores começaram a mudar suas prioridades de acordo com isso. Alguns deles até fizeram previsões drásticas. Uma dessas previsões mais notáveis ocorreu em uma palestra em 2017 intitulada “Return to the Edge and the End of Cloud Computing” (O retorno da borda e o fim da computação em nuvem) feita pelo investidor Peter Levine. Ele declarou que, por causa da mudança impulsionada pela aprendizagem de máquina e IoT da nuvem para a borda, ele podia ver a nuvem se dissipando em “um futuro não muito distante”. No mesmo ano, Thomas J. Bittman,VP e analista da Gartner, emitiu um alerta semelhante. “A borda vai engolir a nuvem” foi o prognóstico do artigo em que ele descreveu a mudança em direção ao “processamento distribuído e de local para processamento em tempo real e de baixa latência”.

REALIDADE: a borda e a nuvem impulsionarão uma a outra.
Há sólidos motivos para um estudo recente da IDC prever que, até 2025, 30% dos dados do mundo precisarão de processamento em tempo real. Um exemplo fácil: veículos autônomos (carros sem motorista) e veículos conectados (que comunicam um grande volume de dados com outros veículos, mas não tomam decisões pelo motorista). Esses são casos de uso de borda intuitivos. Se os sensores de um carro conectado ou autônomo detectarem que crianças estão brincando na rua e outro veículo provavelmente vai ultrapassar um sinal vermelho ali perto, essas informações precisam ser processadas rapidamente. Nós não temos milissegundos de latência a mais para enviar esses insights de volta à nuvem para processamento. Os dados precisam de ação nesse mesmo segundo.

Levine está certo em afirmar que o processamento desses dados cruciais para a vida (geralmente por meio de aprendizagem de máquina) precisará acontecer nos endpoints. Mas o título da palestra dele não está lá muito certo. Até mesmo ele, nessa mesma apresentação, admite que “informações importantes ainda são armazenadas em uma nuvem centralizada” e descreve a nuvem como um tipo de centro de aprendizagem para permitir a aprendizagem de máquina em massa, o que requer uma grande quantidade de dados e agregamento de insights na borda. Bittman, da Gartner, também reconheceu que a “nuvem terá sua função”.

Então, não, a borda não vai engolir a nuvem. Em vez disso, vai fazer com que a nuvem amplie seu tecido até a borda.

A pergunta certa não é: a borda ou a nuvem prevalecerá? A pergunta certa é: como a nuvem com a borda serão configuradas? Ou como a borda e a nuvem trabalharão juntas?

A pergunta certa não é: a borda ou a nuvem prevalecerá? A pergunta certa é: como a nuvem com a borda serão configuradas? Ou como a borda e a nuvem trabalharão juntas?

O modelo de data center de hiperescala continua funcionando bem para aplicações que se beneficiam da centralização: arquivamento de grande escala, distribuição de conteúdo, armazenamento de aplicativos e prototipagem rápida, entre outras.

Também é verdade que um tipo específico de desconsolidação da nuvem está acontecendo simultaneamente. De acordo com o Dados na borda, um relatório de 2019 publicado pela Seagate com a Vapor IO, empresas como a Vapor IO, a Edgeconnex e a DartPoints estão se voltando para data centers micromodulares, também chamados de data centers de borda. Esses são data centers pequenos, autocontidos, automatizados, econômicos e “microrregionais na borda da rede — em locais novos, como estacionamentos, em direitos de passagem municipais e na base das torres de celular”. Desenvolvidos para tolerar desafios ambientais e de segurança na periferia, esses agrupamentos de borda têm “poder de processamento suficiente para agregar e processar dados separadamente dos data centers centralizados”, segundo outra inovadora de data center micromodular, a Dell EMC. A provedora de infraestrutura de computação em nuvem e de borda chama essas ofertas de nuvens “vão para qualquer lugar”.

Paradoxalmente, a nuvem pode ser vista como uma consequência natural da nuvem. Embora a nuvem tenha “democratizado a Internet”, permitindo o streaming de vídeo e jogos online, de acordo com o VP da Telefonica, Patrick Lopez, “achamos que a borda é a próxima geração disso”.

“A computação de borda está, basicamente, unindo o melhor da nuvem e o melhor das telecomunicações”, afirmou Lopez. “O melhor da nuvem, porque está pegando todos esses serviços de nuvem e trazendo-os para mais perto do usuário, e o melhor das telecomunicações, porque traz o imediatismo, o sempre ativo e sempre conectado, que são os aspectos pelos quais as telecoms são conhecidas”.

MITO 2: só existe uma borda.
Afinal de contas, é assim que nos referimos a ela, no singular, não é?

REALIDADE: existem várias bordas.
Sim e não. Há uma diferença que precisa ser apontada.

Quando o termo “borda” é usado no singular, é para se referir ao ecossistema no qual os dados são processados perto de onde eles são criados. Mas também é verdade que há muitas bordas.

Isso significa que há um número crescente de redes e, portanto, um número crescente de fronteiras de rede contendo endpoints que executam aplicativos de interesse dos usuários. Algumas pessoas até tentaram quantificar o número máximo possível só por diversão.

A adição de uma camada de complexidade é uma realidade importante: todas essas redes de borda dependem de casos de uso.

A adição de uma camada de complexidade é uma realidade importante: todas essas redes de borda dependem de casos de uso.

Elas podem ser executadas em um celeiro em uma fazenda, em um carro conectado ou em vários outros locais.

As bordas desenvolvidas para uma finalidade específica são definitivamente algo que veremos em breve. Com o tempo, as bordas se tornarão mais como a nuvem: a personalização vai acontecer, mas, provavelmente, só como uma camada de software. Como observou Lopez da Telefonica, a ubiquidade de acesso e a simplicidade dos aplicativos de desenvolvedor que fizeram parte da nuvem podem ter que se tornar obrigatórias em qualquer borda. Se alguém desenvolver um aplicativo que funcione em uma borda, ele deve poder ser implementado em qualquer rede.

MITO 3: encolha a nuvem, coloque-a em uma caixa e pronto: você tem a borda!
Já estabelecemos que algum armazenamento e processamento serão necessários na borda. Certos atributos do ambiente de nuvem seriam, no mínimo, desejáveis de replicar em uma variedade de bordas: acesso igual à rede e compatibilidade de um aplicativo desenvolvido em uma rede de borda com redes de borda diferentes. Isso não transforma cada borda um pouco em uma nuvem?

REALIDADE: a borda não é uma nuvem pequena.
Lembre-se de que foram os dados e suas necessidades que deram origem às bordas, não o contrário.

A borda não é uma mininuvem, primeiro de tudo, porque ela é totalmente impulsionada pelos dados.

A borda não é uma mininuvem, primeiro de tudo, porque ela é totalmente impulsionada pelos dados.

A forma dela é determinada pelos casos de uso que produzem e processam dados perto dos usuários finais.

E esses casos de uso variam incrivelmente. Estamos falando de regulamentação de serviços públicos em cidades inteligentes, cenários de realidade virtual, monitoramento de pontes antigas, robôs produzindo roupas em fábricas por meio de assistentes virtuais, etc. Os dados que esses cenários produzem, que precisam de processamento na borda, também são diversificados. É por isso que a infraestrutura da borda depende da aplicação.

Como já foi mencionado aqui, a borda não terá espaço e tempo para certos tipos de dados. Dados de arquivamento ou dados necessários para produzir processos de aprendizagem de máquina (data lakes, grandes agrupamentos de dados que ensinam algoritmos de aprendizagem de máquina) no data center de hiperescala, segundo Levine, não terão serventia na borda.

Por fim, a borda não é uma mininuvem, porque é uma operação totalmente automatizada e remota marcada pela proximidade física ao usuário. Diferentemente da nuvem, a borda é identificada por um local e quão próximo ele está dos dados.

Ao contrário do hub de data center centralizado, homogêneo e de uso geral, cada borda se concentra em solucionar um problema específico.

Pelo menos por enquanto.